Brasil pode ajudar Portugal, indica Dilma
29 de mar. de 2011
A presidente Dilma, durante uma entrevista coletiva em Coimbra
LISBOA — O Brasil tem meios de ajudar Portugal, que atravessa um período de graves dificuldades econômicas e financeiras, declarou nesta terça-feira a presidente Dilma Rousseff, citada pela agência Lusa, durante uma visita à cidade de Coimbra.
"Faremos todo o possível para ajudar Portugal dentro de nossa legislação", declarou Dilma agora à noite, durante entrevista à imprensa, em Coimbra.
"No Brasil temos regras muito estritas em relação ao uso de nossas reservas", explicou, precisando, por exemplo, que em matéria de compra de títulos da dívida externa, "devemos respeitar pré-requisitos vinculados".
A presidente lembrou que, até o momento, Portugal não havia apresentado nenhum "pedido formal" de ajuda, precisando que "já houve várias discussões, embora não concludentes".
A presidente do Brasil, no entanto, cancelou todos os encontros oficiais previstos, devido à morte do ex-vice-presidente José Alencar.
Ela deveria se reunir nesta quarta-feira com o presidente Aníbal Cavaco Silva e com o primeiro-ministro português demissionário José Socrates.
Dilma assistirá, no entanto, pela manhã, a uma cerimônia de homenagem a Lula, que se tornará doutor honoris causa da Universidade de Coimbra.
José Alencar, vice-presidente do Brasil nos dois mandatos do ex-chefe de Estado Luiz Inacio Lula da Silva (2003-2010), faleceu nesta terça-feira em São Paulo, das consequências de um câncer.
"Cultural e politicamente falando, somos fruto dos Grandes Descobrimentos", acrescentou.
"O Brasil pode e está em condições de ajudar Portugal", afirmou, por sua vez, o ex-presidente Lula, que vai receber o prêmio do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa.
"O governo português deve discutir com a equipe de Dilma Rousseff", afirmou ainda, explicando que a presidente brasileira "mostrará uma grande solidariedade para com Portugal".
Lula, que criticou a União Europeia (UE) por levar muito tempo antes de ajudar a Grécia, havia afirmado em sua chegada a Lisboa que "o FMI não resolverá os problemas de Portugal", um país considerado o próximo candidato a uma ajuda financeira similar à recebida pela Grécia e Irlanda, outros dois membros da Eurozona.
"Cada vez que o FMI tentou ajudar os países endividados, apresentou mais problemas do que soluções", afirmou Lula.
Na quarta-feira passada, o primeiro-ministro português José Sócrates apresentou sua demissão depois que o Parlamento rejeitou um novo plano de austeridade, que supõe garantir a redução do déficit público a 2% do PIB até 2013 e evitar o recurso a uma ajuda financeira internacional.
Os prazos financeiros são curtos para Portugal, que deve pagar 4,2 bilhões de euros de dívida em 15 de abril e outros 4,9 bilhões em 15 de junho.
Para alguns analistas, Portugal pode tentar superar esses vencimentos com empréstimos de outros países sob a forma de compras diretas de sua dívida.
A China, que, segundo informações da imprensa, havia comprado mais de um bilhão de euros da dívida portuguesa em janeiro, disse na semana passada estar disposta a reforçar seu laços com Portugal.
O Banco de Portugal (BdP) revisou nesta terça-feira para baixo a previsão de crescimento para 2011, com uma redução de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB), contra -1,3% na estimativa anterior, e prevê uma retomada do crescimento, limitado a +0,3%, em 2012.
O Banco Central português destaca, no entanto, que a projeção "não tem relação com todas as medidas necessárias para alcançar os exigentes objetivos orçamentários com os quais o Estado português se comprometeu para 2012", ou seja, um déficit de 4,6% do PIB este ano e de 3% no próximo.
Para 2012, o BdP conta com um retorno do crescimento de 0,3% do PIB, mas, destaca em seu último boletim econômico trimestral, "a adoção das medidas implica uma nova contração significativa da atividade econômica, semelhante a que está prevista para 2011".
Já a agência de classificação financeira Standard and Poor's (S&P) anunciou nesta terça-feira ter rebaixado em um grau o rating de Portugal, a "BBB-".
Fonte: AFP
0 Comentários: